8 de janeiro de 2007

Defunto Andante

sou defunto andante e nouseabundo/
Verme sob os pés da tríade nephastaa/
Sou quem pés e alma arrastaa/
Para os bueiros infectos do mundo/

Sou aquele que dor nenhuma basta
Quando muito me faz fecundo
À miséria secular que em um segundo
Ao vômito dos cães me arrasta

Sou a estupidez manifesta e plena
A ironia da justiça, o anticristo
Riso sacrílego cortando a cena

O sangue podre de Mefisto
Posto à boca de maldita hiena
Quem de tão podre se resume nisto

Guano

Sou náufrago em mar de guano
Infecto como os sinais de meu futuro
Abortado em pedaços de engano
Escarrados pelo útero de meu auguro

Sangrando, hemofílico, aguardando a morte
-já não habitam sonhos em meu mundo escuro
nem há sangue em meu proximo corte
apenas catre mortuario frio e duro

Sinto às narinas o azedume da finitude
Libertação que temo deste mundo impuro
-vislumbro a campa e o ataúde

Mas morro ímpio e ímpio esconjuro
Ao deus hipócrita, assassino e rude
E à finitude meu corpo gasoso juro

Serpente

Amo como amam as serpentes
Enroscado, contorcido, faminto
Amo como quem grita
E ao mesmo tempo sussurra
Amo como quem mergulha dos abismos
Amo como rastejo
Amo como quem dança
Como quem dança dentro de outro corpo
Como se fosse o outro corpo

Poema Escorpiano

Eu sou a vida e por vida o esplendor da morte
Sou paixão e ira, quintessência da entropia
O carrasco, a sordidez, o inocente que espia
Metástese de deus, lâmina que desenha o corte

Tenho em mim a dor da humanidade
Todos os seus gritos, toda a agonia
A solidão e a completude, quem destroi, quem cria
Ilhas de esterco no oceano da sujidade

Da mulher que se crê santa sendo vadia
Do homem de bem apodrecido pela maldade
De mim mesmo que me creio tanto!

E não passo de engano vomitando a verdade
Não passo de verme coberto pelo manto
Da poesia e sua crueldade