10 de junho de 2005

Paixão

Paixão é armadilha
Teia, labirinto
Cadafalso
Caminho sem destino
Que se caminha descalço
É o olhar vermelho
Úmido, exultante
É querer sem ter descanso
E tendo
Jamais ter o bastante...

Elegia do Amor Finito (Poema para Alissa)

Há em meu destino algo de incompreensível
De angustiante, torpe, que me apreende
Como p´[etreo patamar que se fende
Há dor, horrenda, indesmintível

Há em meu destino algo de desumano
De bestial, canalha, asco azedume
Como trevas imersas em meu próprio lume
Mortificando-me a cada engano

Mas eis que supera-se o destino
Em crueldade antes jamais desperta
Deixando ao "acaso" a porta aberta
Dando ao pátio dos sonhos de um menino

Nem a morte, nefasta espectativa
Nem as muralhas com que cerquei minh'alma
Impediram-te de devorar-me com a calma
Torturante das dançarinas de Shiva...

Mas foram teus olhos meu sumidouro
Teu gesto mínimo, sutíl, delicado
Acendendo meu coração mumificado
Pelo próprio agouro

Que fez-me incorrer no erro
De, julgando próxima a felicidade
Crer-me teu zelador pela eternidade
Mesmo que um átimo separe-me de meu enterro

Ficam em mim sacralizadas as imagens
De ti, sentada ao trono feito a Virgem
De pés nus, coberta pelo manto da vertígem
Que 'inda há de despertar mirágens

De teus olhos imersos nos meus
Confessando o que morrerá em tua boca
Pois reafirmaria a santa nos passos da louca
Antes, escolhestes o adeus...

Há no teu destino algo desvelando a sorte
Em ter distante minhas profundezas
Gris, de um Quiron e suas tristezas
De mil cicatrizes em um único corte

De teres de ver minhas feridas
Gangrenadas, abertas feito sorrisos
deste idióta, que arriscando-se aos paraísos
Deixa no inferno suas quimeras perdidas

Sou Quiron entronado em sua feiura abjeta
Sonhando, tolo, em comover-te com poesia
Como se houvesse louvor em tanta melancolia
De saber meu Eros sem arco ou seta!

Que força este poema teria
Para dobrar tua vontade resoluta
De ser apenas encantamento posto à gruta
Desta Besta despida de alegria?!

Pois que seja apenas manifesto
Embevecimento de um tolo apaixonado
Largado às misérias da finitude, agrilhoado
Às dores que é infesto

Mas não há de faltar alegria
A quem, como tu, desperta o amor
Mesmo que não o queiras, com ardor
Mesmo que me precipites a esta elegia


9 de junho de 2005

Estupidez

Creio que "estupidez" seja a palavra que guia meus passos
Construindo o que me envolve, bílis em que me banho
Azedume feito de enganos, fotografia em sépia de abraços
Ausência, distância mesurável apenas por meus lanhos

E o sangue escorre entre as palavras que escrevo, malditas
Merda perceber que mesmo corpos unos somos estranhos
Como se jamais hovessemos proposto espectativas, almas aflitas!
Desoladas ante segredos, degredos, mistérios tamanhos!

Posto, que seja assim, que a terra engula o cadáver dos sonhos
Famélica que é por engolir o que ainda me resta
Cinzelando em nossas peles desenhos medonhos

Então "adeus" talvez seja o que o destino gesta
Na perversidade do tempo e seus demônios risonhos
Que nos têm por convivas nesta sangüínea festa

Quimera

Cansei da melancolia absurda dessa vida
Quero um novo tempo, novo auguro
Beliscar, que seja, a bunda do futuro
Assassinando essa famélica tristeza

E com a parca força que 'inda me há conjuro
Nada há de me afastar dos amores
Que persigui com a fúria de tamanhas dores
E que ora com insipiente paz procuro

Porque há de multiplicar-se como as flores
Multiplicam-se, findo o inverno, à primavera
O amor sepultando os meus rancores

Inaugurando em meu caminho nova era
Novo aeon brandindo vida, destemores
Deste que escreve do estômago de uma Quimera